Nessa sexta me arrumei, me maquiei, e fui á escola. Ouvi de um cara que eu sou feia...não respondi nada. Só dei risada, sentei e lembrei dos tempos em que ouvir aquilo de alguém me afetava, mas afetava muito.
Há três anos atrás, eu não tinha paz.
''A magra demais.''
Eu simplesmente me olhava no espelho nua, e não me sentia atraída por nada que via. Ficava horas reparando o meu reflexo ali, lembrando do que tinha ouvido: ''Talvez se você tivesse mais peito e bunda, os meninos se interessariam por você. Mas olha, não perde essa cintura porque gorda também não dá né?!'', '' Para de ser muito profunda. Você é tão boa com as pessoas, para com isso!'', ''Ai, chegou a amigona de todo mundo'', ''Corta esse cabelo, dá um ar de antiquada.'', ''Pinta a unha, usa maquiagem!'' ''Para de dar bom dia pra todo mundo e perguntar se eles estão bem, você fica irritante fazendo isso.'', ''Para de ser sonhadora e volta pra realidade!'', '' É tão feio ser nerd.'', '' Faz essa sobrancelha!''.
Aquilo tudo ficava na minha mente, era como uma voz.
Comprei maquiagem e milhares de esmaltes, e os usei. Como costumava usar sempre meu cabelo amarrado, soltei, aparei. Comecei á fazer exercícios que ajudavam no crescimento dos glúteos. Não comia quase nada. Algumas vezes, pegava o algodão, molhava no suco, e engolia, pra não ter o risco de sentir muita fome. Meu prato de comida era quase sempre vazio. A única coisa que não mudei foi a minha personalidade... essa ficou intacta, até se aperfeiçoou ao longo dos anos.
Eu só queria ser linda.
Levei isso durante muito tempo, era um fardo pesado, mas eu sorria e fingia pro mundo e pra mim, que estava tudo bem... é normal ser forçada á ser algo que você não é, pois só assim os outros iriam gostar de mim.
Todos os dias olhava o espelho, pra ver se estava tudo nos padrões, da cabeça aos pés.
Conheci inúmeras pessoas, interessadas na minha aparência e que ficavam impressionados com a minha aparente auto-confiança.
Há um ano atrás, tudo mudou.
Meus amigos, aqueles que pra contar, você precisa apenas dos dedos de uma mão, me disseram o quanto eu era incrível e maravilhosa por tratar as pessoas tão bem, por me preocupar, por acreditar em dias melhores, sorrir sempre, dar gargalhadas altas, cantar alto, chorar sem se importar com as pessoas ao redor, abraçar eles sem motivos e muitas das vezes ajuda-los em um dia ruim sem nem perceber, ver a felicidade em coisas pequenas e outros infindáveis elogios internos.
Um dia, fui novamente pra fente do espelho... mas aquele dia foi diferente.
Eu nunca chorei tanto. Senti compaixão, eu vi ali, o amor pra minha vida e a única pessoa que eu deveria ter ouvido a opinião. Decidi que iria parar de só me olhar pra ver se o rímel estava borrado, ou se o contorno estava certo. Iria me ver... me ver por dentro. E quando me vi por dentro, estava completamente cansada, machucada. Naquele dia eu me perdi em mim.
Pintei o cabelo de preto, a cor que há tempos queria, mas que muitos diziam que ficaria feio, pois deixaria eu mais branca do que já sou ou que já existiam muitas meninas com o cabelo daquela cor, e eu deveria ser diferente se não ficaria sem graça. Parei de alisar quase todos os dias, e as ondulações apareceram novamente. A maquiagem ficou esquecida durante um tempo. Comecei á me vestir do jeito que me agradava, mesmo com os meus ossos mais aparentes do que o normal, comecei á amar minhas pernas fininhas, meus braços longos, minhas curvas pequenas, meu cabelo longo, a boca fina.
Naquele dia, eu percebi que eu era linda de uma forma tão surreal, que nem todos tinham a capacidade de enxergar. Agora sim, eu tenho auto-confiança e não me abalo com opiniões alheias, apenas ás absorvo, e devolvo em forma de amor, superação, sorrisos.
A beleza não está está na forma como você se veste, nem na sua aparência facial. A beleza está na sua alma, na forma como você encontra suas alegrias, a sua beleza é aquela que surge quando mais ninguém está ao seu redor.
Tudo isso reflete pra fora.
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